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Publicado em 04/12/2021
Caroliny Barbosa
Um símbolo de luta

Foto: Divulgação (ONG SP Invisível)
Diante do caos econômico instaurado nos últimos anos no Brasil, em uma frívola tentativa de tornar o centro financeiro de São Paulo a nova Wall Street, a B3 (Bolsa de Valores do Brasil) ganhou o seu próprio “Touro de Ouro”.
Soando como um insulto para aqueles que não possuem o mínimo de dignidade econômica, não demorou muito para que a escultura se tornasse alvo de críticas e manifestações organizadas por ONGs e coletivos.
Segundo dados da Fundação Seade, em 2021, a população do estado de São Paulo classificada como “pobre” pulou de 13,8% em 2019 para 19,7%, isto é, teve um aumento de 5,9 pontos percentuais. Esses dados são consequência de um desgoverno que favorece a concentração de renda nas mãos dos mais ricos, enquanto aqueles que, por sorte, ainda têm um emprego ou conseguem exercer alguma atividade remunerada, ainda que informal, precisam aprender a sobreviver com cada vez menos.
Enquanto o mercado financeiro colocava sua maquiada aparência para desfilar, o touro dourado, que tinha o objetivo de ser um símbolo de prosperidade e otimismo, acabou se tornando um marco da miséria, escancarando a desigualdade social da capital paulista e outras mazelas, como a superexploração do trabalho.
Usado como cenário de uma churrascada para a população de rua, o touro chamou a atenção para a verdadeira face da economia brasileira: Bolsa de Valores em queda, cesta básica chegando aos R$ 693,79 na cidade de São Paulo e alta da Selic (já ineficaz no controle da inflação), resultando no “esfriamento” da economia.
Motivada por um encadeamento de críticas, uma semana após sua instalação na Rua XV de Novembro, a Bolsa de Valores assistiu à remoção do seu “mascote”, realizada pela Comissão Municipal de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU). E ainda recebeu uma multa por instalar a escultura em local público sem autorização da Prefeitura.
Aquilo que tinha a finalidade de expor o ilusório poder do mercado financeiro brasileiro, depois de retirado conseguiu virar novamente notícia negativa para a B3, quando se descobriu que se tratava de uma campanha publicitária patrocinada pelo empresário e sócio da XP Investimentos, Pablo Spyer.
Contrariamente ao que pretendia o empresário, toda a discussão que marcou a instalação da escultura no centro de São Paulo só serviu, até agora, para acender o debate acerca da marginalização dos economicamente vulneráveis, e também sobre as reais prioridades que o mercado financeiro brasileiro e suas instituições defendem, em meio a uma das maiores crises – nos âmbitos político, econômico e social – que o país já vivenciou.