top of page

Publicado em 04/12/2021

Larissa Ogata e Gabriel Chacon

CONMEBOL Libertadores Feminina 2021

Visão geral do evento e atuação dos times brasileiros, confira:

Entre os dias 3 e 21 de novembro, aconteceu a 13º edição da Copa Libertadores da América de Futebol Feminino. A final foi realizada no estádio Gran Parque Central, em Montevidéu, no Uruguai, na qual o Corinthians se sagrou campeão pela terceira vez. O campeonato contou com 16 equipes, sendo 3 delas Brasileiras: Ferroviária, Corinthians e Avaí Kindermann.

Vamos entender mais sobre a competição mais prestigiada a nível de clubes de futebol feminino da América?

A CONMEBOL Libertadores Feminina, realizada desde 2009, é o torneio internacional mais relevante da categoria e é dirigida pela Confederação Sul-Americana de Futebol, a CONMEBOL. Das 13 edições, o Brasil levou 10 vezes o título para casa.

  • 2009 – Santos (BRA)

  • 2010 – Santos (BRA)

  • 2011 – São José (BRA)

  • 2012 – Colo-Colo (CHI)

  • 2013 – São José (BRA)

  • 2014 – São José (BRA)

  • 2015 – Ferroviária (BRA)

  • 2016 – Sportivo Limpeño (PAR)

  • 2017 – Corinthians/Audax (BRA)

  • 2018 – Atlético Huila (COL)

  • 2019 – Corinthians (BRA)

  • 2020 – Ferroviária (BRA)

  • 2021 – Corinthians (BRA)

Nesta edição, dois países sediaram as disputas. A fase de grupos, quartas de final e semifinais ocorreram no Paraguai e a final, no Uruguai.

Diferentemente do masculino, os times do mesmo grupo se enfrentaram em turno único. Os dois melhores avançam às quartas de final. Seguindo o modelo de Copa do Mundo, as quartas e semifinais foram no formato eliminatório mata-mata, em jogo único.

Trajetória das equipes brasileiras na competição

Ferroviária

 

A Ferroviária, campeã da edição anterior da Libertadores, se classificou em 1° lugar do grupo A para as quartas de final, com 7 pontos conquistados em três jogos.

Após, enfrentou o Cerro Porteño e garantiu a vitória por 3x0, assim, se classificou para a semifinal da competição.

O time brasileiro empatou no tempo regulamentar com o Santa Fé no dia 15 de novembro e levou a decisão para as penalidades máximas, em que foi eliminado com o resultado de 4x2 para a equipe colombiana.

Derrotados nas semifinais, Ferroviária e Nacional(URU)  duelaram pela 3ª colocação da Libertadores 2021 na quinta-feira(18), no Arsenio Erico, em Assunção (Paraguai).

As Guerreiras Grenás venceram por 3x1, nos pênaltis, após um empate em 1 a 1 no tempo normal: Daiane, Duda Batista e Géssica converteram as cobranças das paulistas. No início do jogo, as atletas do time brasileiro fizeram um gesto de punho cerrado com braços erguidos, que simboliza a resistência na luta contra o racismo, em protesto ao ato de racismo cometido por uma jogadora da equipe uruguaia direcionado a Adriana, camisa 16 da equipe do Corinthians no jogo anterior, válido pela semifinal da competição.

ferro.png

Foto: Twitter

Avaí Kindermann

O time brasileiro se classificou também na primeira colocação do grupo B com 7 pontos conquistados em 3 jogos.

 

No jogo das quartas de final, no dia 15 de novembro, a equipe brasileira ficou só no empate com o Santa Fé, que levou o jogo pros pênaltis. A equipe brasileira levou a pior e perdeu a disputa por 6 a 5, dando adeus a competição.

Após a eliminação, o clube anunciou o encerramento das atividades. Com 13 anos de atuação, conquistou 12 títulos estaduais, uma copa do Brasil, além de participações internacionais. O time catarinense deixou um legado para o futebol revelando grandes nomes como: Andressinha, Julia Bianchi, Gabi Portilho, Camilinha, entre outras. 

twitter.png

Foto: Twitter

O time era mantido por Salézio Kindermann(77), presidente e fundador da equipe, que faleceu em abril deste ano, de Covid-19. Após a morte, a família decidiu cumprir a agenda do clube para 2021 e então finalizar sua atuação. 

 

O Avaí estava com dificuldades financeiras, segundo a família as contas acabaram ficando altas demais e, infelizmente, ficou difícil administrá-las depois que Salézio se foi.

Apesar das dificuldades, o time conseguiu encerrar com todas as contas pagas. As atletas foram todas dispensas com os direitos pagos pelos Kindermann.

Agora, com a quebra, o Avaí se mostrou interessado em dar continuidade ao projeto de maneira individual, no entanto, a resposta só virá após a reunião com a eleição da nova presidência, em dezembro de 2021. A família está aberta à negociação para a venda da equipe. Se não houver interessados, enviarão uma carta à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) abrindo mão da vaga na elite do Brasileirão Feminino.

avai.png

Foto: GE

Corinthians

Potência no futebol feminino, a equipe corinthiana se classificou em primeiro no grupo D, com 9 pontos conquistados em 3 jogos, nos quais obteve a vitória.

No sábado (13), a equipe brasileira venceu no tempo normal por 3x1 contra o Alianza Lima, se classificando para a semifinal.

O Corinthians enfrentou o Nacional (URU) e goleou por 8x0 no dia 16 de novembro, garantindo a vaga para a final da Libertadores.

A partida foi marcada não só pelo resultado elástico, mas por um triste ato de racismo sofrido pelas atletas brasileiras. A Conmebol ainda não puniu a jogadora nem o time uruguaio pelos atos.

A grande final, disputada no dia 21 de novembro no Uruguai, teve vitória brasileira. A equipe do Corinthians enfrentou o Santa Fé, e ganhou por 2 a 0. Gols marcados por Adriana e Gabi Portilho.

As brabas deram uma volta olímpica no dia 28 de novembro na Neo Química Arena, a casa do Timão, antes do jogo do time masculino contra o Atlético Paranaense, onde foram aplaudidas pela torcida presente no estádio em um jogo que contou com mais de 40 mil pessoas e teve vitória alvinegra.

A Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians, fez uma caravana para o jogo a custo zero, onde 41 pessoas foram de ônibus para o Uruguai apoiar o time.

Em entrevista concedida ao TNT Sports, um dos organizadores conhecido como Pardal disse que a proposta nasceu a partir do desempenho da equipe na competição e, também, pelo trabalho reconhecido como muito bonito que as jogadoras têm feito com a camisa alvinegra. "A ideia é que a gente apoie o Corinthians em qualquer ocasião. Essa é a razão da nossa existência: fiscalizar e apoiar o Corinthians em qualquer ocasião e em qualquer esporte", disse Pardal.

Casos graves de racismo no torneio

corin.png

Foto: Google

A equipe do Corinthians vinha goleando por 5 a 0 o Nacional(URU) pela semifinal da Libertadores Feminina de 2021, quando foi marcada penalidade máxima para o Corinthians. A jogadora Adriana converteu e uma das atletas do time uruguaio chamou Adriana de “macaca”. Vic Albuquerque foi quem ouviu a ofensa e caiu em lágrimas após o ocorrido, tendo que ser contida pela árbitra da partida diante de tamanha revolta e tristeza. Adriana ficou sabendo através das companheiras o que tinha ocorrido. Após o ato de racismo, a equipe alvinegra marcou mais dois gols, estes foram comemorados com o braço erguido e punho cerrado pelas jogadoras, em sinal de resistência ao racismo.

 

Adriana falou sobre o episódio após a partida. "Não vi o que ela falou, mas vi que quem escutou se sentiu mal. Depois que as meninas me contaram, me senti mal, nunca passei por uma situação dessas. A gente trabalha para que não aconteça, e em uma competição assim é ainda pior. Espero que ela respeite o nosso trabalho, que não aconteça com ninguém, é uma sensação horrível".

Adriana teve apoio de muitas equipes do futebol feminino brasileiras que repudiaram a atitude e se uniram ao Corinthians na luta anti racista. A CBF e a Federação Paulista de Futebol também se posicionaram.

 

O clube uruguaio é reincidente em atos racistas na competição feminina. No jogo das quartas de final, o Deportivo Cali foi derrotado por 2x1 para o Nacional e relatou que ocorreu o mesmo com uma de suas jogadoras. Segundo o perfil oficial do clube, a defensora Laura Orozco também sofreu ofensas racistas por parte da comissão técnica do Nacional.

 

Ao término da partida, Laura teve que ser contida pelas companheiras de equipe ao tentar tirar satisfação pelo ocorrido. A Conmebol, organizadora da competição, não aplicou punição a nenhum integrante do clube até então.

O crescimento da influência do futebol feminino

Emilia (13) é uma grande fã da Capitã corinthiana Tamires, no dia 21 de novembro ciente que a ídolo estaria lá para jogar a final da libertadores, compareceu ao Gran Parque Central decidida a ganhar a Camisa da atleta. Para isso, levou um cartaz com as escritas “Tamires, você me daria sua camisa, obrigado”, a jogadora viu o cartaz e autografou, mas não conseguiu dar a camisa no momento do jogo por conta dos protocolos de saúde relacionados a pandemia da Covid-19.

 

No entanto, Tamires não se esqueceu do pedido da criança e retribuiu o carinho enviando sua camisa com a mensagem escrita “Para Emília, com carinho, Tamires 14”.

twitterr.png

Foto: Twitter

Emilia López Durán e outras pequenas torcedoras estavam presentes para prestigiar a partida, o que mostra a proporção que a modalidade vem ganhando.

O interesse pelo futebol feminino tem crescido, todavia ainda tem um longo caminho para percorrer antes de chegar ao prestígio por ele merecido. Entre perdas e conquistas, o que sustenta o sonho de muitas garotas é a admiração pelas atletas que, hoje, representam a modalidade. A recíproca é verdadeira, já que é através do crescente apoio que o futebol feminino está se desenvolvendo e podendo dar condições melhores para as jogadoras. 

Karla Borges (19), amante de futebol, comentou sobre sua relação com o esporte e como ela vê o cenário atual e futuro:

Qual sua relação com o futebol? É algo de família?  Você já quis/quer ser jogadora profissional um dia?

 

"Minha relação com o futebol é de amor, eu sou extremamente apaixonada pela modalidade, e tudo que ela pode proporcionar na vida de uma pessoa. Acredito que ela transforma vidas, pois transformou a minha e de muitas meninas que conheço, dando esperança e uma nova visão de mundo para elas. Não. Minha família nunca foi muito ligada ao futebol, muito menos o feminino, foi sempre uma coisa muito minha mesmo. Desde pequena sempre gostei de jogar e acompanhar, sempre que possível, pois naquela época era ainda mais difícil o acesso às transmissões (isso quando haviam). Já, até meus 15 anos eu tinha certeza que seria jogadora, mas infelizmente descobri alguns problemas que me tiraram dos treinos e acabei me dedicando a outras coisas. Mas vai sempre ser um sonho que fico muito frustrada de ter deixado para trás."

 

O que você acha da evolução da modalidade tanto midiaticamente quanto em estrutura nos últimos anos? E como vê o futebol feminino daqui pra frente?

"Acredito que ainda temos um longo caminho pela frente, porém consigo perceber uma evolução de uns anos pra cá. Há 5 anos atrás eu nunca imaginaria que um perfil de futebol  feminino poderia chegar perto de 1 milhão de seguidores, como é o exemplo da página do Corinthians Feminino no Instagram, mas hoje com esse apoio um pouco melhor e mantendo a página sempre ativa isso já é uma realidade. Quando pensamos nisso, pode vir a falsa impressão que já estamos em um patamar bom dentro do cenário feminino, mas isso é uma realidade distante de times menores, que ficou muito claro no Paulistão Feminino de 2020 em que um dos resultados dos jogos foi uma goleada de 29 x 0 pro SPFC em cima do CATS, o futebol feminino ainda é um descaso nacional, times que mal treinam, sem uniforme, sem estrutura apenas com o nome emprestado para participar das competições, com jogadoras que não recebem, quando jogar bola era pra ser um emprego. Isso mostra que ainda existe um abismo muito grande, que temos muito chão pela frente e que não podemos nos iludir achando que já está tudo bem. Procuro acreditar que a modalidade ainda vai crescer muito, e ter uma visibilidade maior, espero que daqui 5 anos eu me surpreenda de novo com a realidade do esporte no Brasil de uma maneira positiva. Esse é meu sonho!"

No seu meio, as pessoas costumam acompanhar os grandes campeonatos femininos?

"Sim, como sempre estou envolvida com pessoas que jogam e gostam da modalidade, elas sempre estão acompanhando e comentando sobre. Acredito que a partir do momento em que as pessoas tiverem o acesso facilitado para acompanhar os campeonatos isso só vai aumentar."

jogadora.png

Foto: Instagram

Como torcedora e fã da modalidade, o que ainda está faltando e o que precisa melhorar o mais rápido possível na sua visão?

"Falta investimento, visibilidade e abertura para que mais pessoas comecem a consumir o futebol feminino. Ainda existe um boicote muito grande, que faz com que pessoas que gostariam de consumir mais não consigam pela dificuldade do acesso aos jogos e transmissões. Existe um caminho muito longo a ser percorrido, ainda não chegamos nem na metade da visibilidade e apoio que a modalidade merece, mesmo estando num lugar bem melhor que há 10 anos atrás, por exemplo."

Tem alguma(s) jogadora(s) que você tem como ídolo e que te inspira na vida? Comente sobre ela(s)

"Sim, existem várias, mas a principal é a Formiga por toda a história que ela carrega com ela, e toda sua importância dentro do futebol feminino, eu cresci vendo ela jogar, ao lado de grandes nomes como Marta e Cristiane, nunca vi ela envolvida em nenhuma polêmica sempre ali fazendo seu trabalho com excelência e muita dedicação, sou muito grata por ter visto ela vestir a camisa do Brasil por tantos anos. Outra atleta que admiro muito é a Gabi Zanotti, levo ela como um exemplo é uma inspiração por toda humildade e futebol que ela sempre apresenta, já tive o prazer de conversar com ela e posso dizer que minha admiração só aumentou."

Transmissões e audiência

A Libertadores 2021 contou com a transmissão aqui no Brasil dos canais Disney, que compõem o Star, a ESPN e o Fox Sports. Além disso, a Conmebol TV, serviço de assinatura da própria organizadora da competição, transmitiu os jogos no pay-per-view. Para completar, o Facebook Watch transmitiu em parceria com a Conmebol, alguns jogos desta edição da Libertadores feminina.

Na final da competição, realizada no domingo (21) entre as 20h e 22h, o canal Fox Sports conseguiu liderar a audiência da TV fechada, o que fez o grupo Disney comemorar o resultado obtido em seu primeiro ano transmitindo a competição.

A partida teve narração de Luciana Mariano e comentários de Mariana Spinelli, Mariana Pereira e Renata Ruel e marcou 0,8 ponto com picos de 1,3 no Ibope PNT da TV Paga, segundo dados divulgados pelo Notícias da TV.

 

Além da audiência pela TV, o jogo contou com um público estimado de 8 mil pessoas, onde parte delas não parecia torcer por nenhum time específico e vibrava junto com o time que ia ao ataque.

O evento tem se tornado cada vez mais importante, e, com o devido apoio, os times brasileiros poderão manter seus talentos e ganhar o mundo com o futebol de qualidade que estamos desenvolvendo. 

© Copyright 2021
Quem somos I Termos de Uso I Política de Privacidade I Fale Conosco
bottom of page