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Publicado em 06/12/2021
Eduardo Maffei de Souza
A crise política que o Brasil precisa superar
Pensar a crise política no Brasil hoje é um exercício que serve tanto para melhorar nossa capacidade de julgamento, quanto para entender nosso papel como parte dessa sociedade. Um marco para se referir ao início desse período de instabilidade foi o processo de impeachment conduzido contra a presidente Dilma Rousseff, no final de 2016. Ela foi a primeira mulher a ocupar a presidência do país, e cumpria, nessa época, o seu segundo mandato. Sua eleição, em 2014, ocorreu no contexto da votação mais acirrada em nossa história desde a redemocratização, entre ela e Aécio Neves. A diferença de poucos pontos percentuais entre os candidatos no segundo turno somente acentuou um processo de polarização que já ocorria entre setores da sociedade.
As denúncias de corrupção e os protestos públicos de 2013 provocaram, em 2014, o início da Operação Lava Jato, conjunto de ações conduzidas pela Polícia Federal que foi fator decisivo no desenvolvimento do contexto político brasileiro atual. A Lava Jato foi responsável pela apuração de esquemas de corrupção e prisão de políticos proeminentes em todo o país, muitos aliados de Dilma. O desgaste de sua figura, junto com o declínio da aprovação popular do governo, foram elementos que contribuíram para a conclusão do processo de impeachment conduzido no Senado em 2016.
Com a cassação do mandato de Dilma, seu vice-presidente, Michel Temer, assumiu a presidência em 2017. As divergências entre eles, que pertenciam a partidos diferentes e tinham projetos sociais distintos, fragilizaram ainda mais o aparato político brasileiro perante a população. O curto governo Temer foi marcado por suspeitas de tentativa de favorecimento de políticos presos, assim como denúncias de corrupção, aumentando o grau de incerteza associado à esfera política brasileira, pois chegou-se a cogitar um processo de cassação de Temer também.
O fim do governo Temer não foi menos tumultuado. No início da campanha eleitoral de 2018, mesmo o ex-presidente Lula estando preso (por processos deflagrados pela Lava Jato), ele figurava como primeiro colocado nas intenções de voto para a presidência da República. O candidato Jair Bolsonaro, que se apresentava como “algo novo” na política nacional (embora já fosse deputado desde 1991), alavancou sua posição após ter sido esfaqueado durante a campanha, num comício em Juiz de Fora (MG). A fragilidade do período desencadeou aumento no preço do diesel, o que gerou uma greve dos caminhoneiros, tendo como consequência o desabastecimento de produtos.
A condição de encarceramento de Lula o retirou da disputa eleitoral e em seu lugar, Fernando Haddad, candidato a vice, assumiu a disputa, polarizando ainda mais a campanha. Bolsonaro foi eleito com sendo o representante de uma “nova política”, por conta das promessas feitas durante a campanha, mas isso não impediu que seu governo fosse igualmente marcado por crises como as denúncias do desmatamento na Amazônia, a omissão diante da pandemia (que provocou mais de 600 mil mortes no país), a demora na compra de vacinas, as acusações de compra de apoio dos deputados do chamado Centrão (por meio da liberação de verbas sem transparência), entre outros fatos, contribuíram para tirar o apoio ao seu governo, necessário para aprovação de pautas importantes para o país.
Essa crise política que se arrasta já há tanto tempo tem duas consequência que precisam ser combatidas: a crise social e econômica, agravadas pela pandemia, e a ocupação do espaço político por outros poderes, como a Polícia Federal e o Supremo Tribunal Federal, que acabam saindo de suas esferas de atuação e começam a exercer funções do Executivo e do Legislativo, já que estes se omitem diante de graves questões que afetam a população, ou parecem dedicar-se apenas a defender seus próprios interesses.